Em todas as estatísticas dos órgãos de segurança pública do Estado, Passo Fundo figura entre as com maiores índices de criminalidade no Rio Grande do Sul. Os indicativos da criminalidade no município preocupam a ponto de duas iniciativas da Secretaria de Segurança do Estado terem sido instaladas aqui, no caso, os Territórios da Paz, localizados nos bairros Integração e José Alexandre Zachia e a Força Tarefa de Combate aos Homicídios, que atuou por 120 dias entre julho e outubro deste ano, dando origem à Equipe Especializada em Homicídios da 1ª Delegacia de Polícia.
Atualmente, os furtos e roubos são os crimes mais comuns, especialmente a estabelecimentos comerciais. Contabilizando apenas as prisões realizadas pela Brigada Militar, até o final de outubro deste ano, 741 pessoas haviam sido presas, com o crime de furto e ocorrências relacionadas à Lei Maria da Penha como os que tiveram maior incidência. Foram abordadas mais de 23 mil pessoas.
Segundo o subcomandante do 3º RPMon da Brigada Militar, major Eriberto Branco, atualmente seja em âmbito nacional ou estadual, os índices da criminalidade vêm aumentando e os reflexos desse aumento são sentidos em Passo Fundo. “Hoje, quando se fala em segurança pública e criminalidade, existe um fenômeno nacional e também no Estado que registra um aumento na criminalidade. Apesar disto, consideramos Passo Fundo uma cidade segura, já que realizamos operações e medimos a questão da segurança, além do clamor público, que é o melhor indicativo se uma cidade é segura ou não. O maior clamor público, atualmente, em Passo Fundo é relacionado com a questão do sossego público”, afirmou.
Centro registra maior número de furtos e roubos
A área central da cidade concentra a maioria dos casos de roubos e furtos. De acordo com dados da Brigada Militar foram registradas, até o fim de outubro, 67 ocorrências destes crimes. O fato de ser a região da cidade que concentra maior número de estabelecimentos comerciais evidentemente contribui para estes índices.
Segundo ele, a área central é, de fato, insegura devido aos pequenos furtos e roubos, que aumentaram. “A ideia é conter isto com a Bike Patrulha, com o policiamento a pé, com o Pelotão de Operações Especiais e o Grupo de Motos do Pelotão de Operações Especiais, que já circulam pelo ‘quadrado central’, como chamamos”, explicou.
Um problema que já foi mais grave e começa a dar sinais de retrocesso é a questão dos roubos a ônibus urbanos. Conforme os dados da Brigada Militar neste ano já houve uma redução de 50% neste tipo de delito.
A região do bairro Vera Cruz é a que registrou maior incidência de roubos a transportes coletivos, com 36 ocorrências até o final de outubro. No bairro Valinhos, os índices são bem próximos, com 30 registros.
Para o presidente da Associação dos moradores do bairro Vera Cruz, Douglas Alexandre da Luz, falta policiamento na região, o que, segundo ele, reduziria as chances de ocorrências de delitos. “Se você anda à noite pelo bairro, não encontra policiamento, mas encontra pessoas mal intencionadas”, afirmou.
O presidente do bairro afirma que, o aumento do índice de desemprego na região pode também ter contribuído para o crescimento das taxas de criminalidade no bairro. “Na ânsia de ganhar dinheiro as pessoas acabam assaltando. À noite o pessoal já se tranca dentro de casa, antigamente quando se saía a noite era possível ver a Brigada Militar fazendo blitzes. Se não houver uma ação mais efetiva, pode sair do controle”, disse.
Vera Cruz e Zachia registraram mais homicídios
Em 2011, com um total de 40 homicídios, os locais que registraram maior índice de assassinatos foram o Centro, com quatro ocorrências e a Vila Donária, também com quatro. Neste ano o panorama teve uma mudança, sendo que o bairro Vera Cruz já registra seis homicídios em 2012 e o bairro José Alexandre Zachia, quatro, sendo os pontos que registram maior incidência desde janeiro.
Até o momento já foram 38 homicídios em 2012, bem próximo do número total registrado em todo o ano passado. Considerando as médias mensais de ocorrências deste tipo, é muito provável que 2012 termine com um número maior de pessoas assassinadas.
Além dos roubos a ônibus, o bairro Vera Cruz também concentra o maior número de homicídios do ano em Passo Fundo, com seis ocorrências até agora. De acordo com o major Eriberto, apesar dos números, o bairro Vera Cruz não é considerado uma região insegura. “O homicídio que preocupa as pessoas é aquele em que, por exemplo, alguém entra na casa da vítima com o intuito de roubar, a vítima reage e acaba sendo ferida e morre. Nestes moldes tivemos apenas um homicídio registrado. Os outros foram pontuais. O que é isso, é assalto, é roubo? Não. Em geral as pessoas envolvidas já tinham problemas antes, o que geram a motivação. Então não há como dizer que a Vera Cruz é o local mais inseguro em Passo Fundo”, esclareceu.
Ainda conforme o major há outros locais que preocupam mais a Brigada Militar que a região do bairro Vera Cruz. “Há locais muito mais inseguros. Antigamente, no Zachia ou no Jaboticabal, nossas viaturas não conseguiam nem entrar que eram recebidas a pedradas. Hoje em dia, a região do alto do bairro Petrópolis, bairro São José e São Luiz Gonzaga, são áreas que nos preocupam, mas já estamos preparados para combater esta atividade”, explicou.
Territórios da Paz registraram queda na criminalidade
No final do ano passado foram instalados dois Territórios da Paz em Passo Fundo, em regiões em que a criminalidade era considerada alta, no bairro Integração, que congrega nove bairros e no bairro José Alexandre Záchia. Com exceção dos homicídios, que no bairro Záchia tiveram um acréscimo em 2012, os outros tipos de delitos tiveram redução nestes locais.
Prestes a completar um ano de atividades, a iniciativa, antes vista como um projeto que traria mais tranquilidade e qualidade de vida à população, hoje em dia, pelo menos aos olhos das lideranças destes bairros, há algumas carências a serem supridas. “Teve bastante resultado no início, mas ultimamente tem deixado a desejar. Acredito que o policiamento tem que estar mais presente dentro do bairro. No início, a viatura ficava somente dentro do bairro e agora ela têm saído para atender outras ocorrências fora do Záchia”, disse o presidente da Associação de Moradores do bairro José Alexandre Záchia, Nilson Santa Helena da Silva.
Apesar desta leitura da situação, o presidente do bairro afirma que houve melhorias na região, que reúne outras ações como o projeto Mulheres da Paz. “A criminalidade tem diminuído bastante em função do trabalho das Mulheres da Paz, que tem realizado um ótimo trabalho junto à comunidade. Só queremos que aquilo que foi prometido no início seja cumprido”, observou Nilson.
O outro Território da Paz, instalado no bairro Integração que reúne os bairros Jaboticabal, Parque Recreio, Professor Schisler, Alvorada, Loteamento Boqueirão, Ipiranga, Xangri-lá, Morada do Sol e Parque do Sol, também registrou queda na criminalidade.
Mesmo assim, para João Otacílio Pereira de Mello, presidente da Associação de Moradores do Bairro Jaboticabal, a observação quanto ao trânsito das viaturas no local é a mesma que a do presidente do bairro Zachia. “Quando o projeto foi implantado, seria por 24 horas. Antes de vir a viatura diziam que era esse o motivo, e que a viatura utilizada antes era utilizada também para atender ocorrências fora do bairro Integração. Com a viatura própria continuou a mesma coisa. Até os fios da câmera de vigilância foram cortados. Se saíres pela cidade encontrará a viatura do Território da Paz em todos os locais, menos no bairro Integração onde o projeto foi implantado”, disse.
O major Eriberto discorda das reclamações dos líderes dos bairros. “É difícil ter policiamento 24 horas por dia em todos locais. Nenhum ponto de Passo Fundo tem policiamento o tempo inteiro. Realmente, em alguns momentos, as viaturas do Território da Paz tinham que atender ocorrências em outros locais. Mas agora temos um oficial e uma sargento para coordenar estes efetivos, não houve mais este tipo de problema. Mesmo com estes contratempos os índices de criminalidade nestas regiões caíram”, declarou.
Trabalho com crianças
Em uma tentativa de reduzir o índice de criminalidade, o bairro Integração trabalha com as crianças moradoras da região. No ginásio de esportes há um projeto em que as crianças praticam esportes, têm aulas de teatro e música.
Em parceria com o CRAS 4, as crianças frequentam o ginásio em turno inverso ao escolar. Além das atividades, os participantes do projeto também recebem lanche. Boa parte do trabalho é realizado por voluntários, mas também há profissionais pagos que prestam serviço. “Isto envolve as crianças com o esporte. Temos pessoas no bairro que vai levando à frente estes projetos. Eu só tenho certeza de um caso de jovem que trabalhou comigo nos times de futebol do bairro que se envolveu em episódio violento, que foi este rapaz que matou a sogra no bairro”, contou o presidente do Jaboticabal.
João Otacílio refere-se ao assassinato de Sílvia Aparecida de Miranda, ocorrido no dia 25 de outubro deste ano. “Foi a única tragédia entre os meninos que participaram do projeto. Os outros estão todos trabalhando e estudando”.
Atualmente o projeto atende a cerca de 100 crianças de 10 a 15 anos. “É uma forma de aproximar e conscientizar as crianças a permanecerem aqui no ginásio. É uma maneira para retirar estas crianças da rua e um incentivo pra eles não se envolverem com drogas e a criminalidades. É uma idade em que há necessidade de um cuidado especial. São tantas atividades que eles não têm tempo de se envolver com drogas, por exemplo”, afirmou o professor de futsal, Geraldo Corrêa, que participa do projeto.
FONTE: O Nacional
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